A privacidade digital posta à prova no processo penal

Autores/as

Descargas

Resumen

O artigo 8.º da Convenção Europeia dos Direitos Humanos trata do respeito pela privacidade. O Quarto Aditamento à Constituição dos EUA trata igualmente do respeito pela privacidade. O processo penal deve assegurar a proteção da privacidade, na medida do possível, e o direito em ação deve respeitar os limites da cópia de dados eletrónicos e as restrições impostas à análise externa do acervo recolhido. Entre os aspetos críticos da análise externa de dados eletrónicos, avulta a questão do procedimento a adotar pelo investigador criminal diante dos conhecimentos fortuitos, uma questão que é analisada detalhadamente neste artigo. A jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos caracteriza-se por alguma ineficácia na criação de remédios para a violação da privacidade no processo penal, designadamente no tocante à cópia de dados eletrónicos e à análise externa do acervo recolhido, desde logo porque não comina a exclusão das evidências produzidas por computador que tenham sido obtidas ilicitamente, o que deveria ser o caso ser o caso, à luz do princípio do processo equitativo. O conhecimento das diretrizes e do direito jurisprudencial norte-americano representa um contributo valioso para o aprofundamento da jurisprudência de Estrasburgo, na sua dupla função decisória e nomofilácica, assim como para o aperfeiçoamento dos ordenamentos jurídicos nacionais europeus ao nível legislativo e ao nível da prática decisória e jurisprudencial.

Palabras clave

conhecimentos fortuitos, doutrina jurisprudencial da visibilidade imediata, evidências produzidas por computador, mandado de busca digital, pesquisa externa, privacidade digital

Citas

Ambos, K., 2010: Beweisverwertungsverbote: Grundlagen und Kasuistik – internationale Bezüge – ausgewählte Probleme, Berlin: Duncker & Humblot.

Bachmaier Winter, L., Thaman, S. C., 2020: «A Comparative View of the Right to Counsel and the Protection of Attorney-Client Communications», in Bachmaier Winter, L., Thaman, S. C. y Lynn, V. (eds.), The Right to Counsel and the Protection of Attorney-Client Privilege in Criminal Proceedings – A Comparative View, Cham: Springer: 7-73.

Bartholomew, P., 2014: «Seize First, Search Later: The Hunt for Digital Evidence», Touro Law Review 30 (4): 1027-1052.

Berman, E., 2018: «Digital Searches, the Fourth Amendment, and the Magistrates’ Revolt», Emory Law Journal 68 (5): 49-94.

Brenner, S. W., Frederiksen, B. A., 2002: «Computer Searches and Seizures: Some Unresolved Issues», Mich. Telecomm. Tech. L. Rev. 39 (8): 39-114.

Clancy, T. K., 2005: «The Fourth Amendment Aspects of Computer Searches and Seizures: A Perspective and a Primer», Mississippi Law Journal 75 (5): 193-286.

Costa Ramos, V., 2017: «Os problemas em matéria de proibições de prova – a dimensão internacional – regras de exclusão da prova obtida em violação da Convenção Europeia dos Direitos Humanos na jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos», in José de Faria Costa et al. (eds.), Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Manuel da Costa Andrade, vol. II (Direito Penal, Direito Processual Penal), Coimbra: Universidade de Coimbra: 740-773.

Costa Ramos, V., Pinto de Abreu, C., Cordeiro, J. V., 2020: «Confidentiality of Correspondence with Counsel as a Requirement of a Fair Trial in Portugal», in: Lorena Bachmaier Winter, Stephen C. Thaman e Veronica Lynn (eds.), The Right to Counsel and the Protection of Attorney-Client Privilege in Criminal Proceedings – A Comparative View, Cham: Springer: 235-271.

De Hert, P., Gutwirth, S., 2009: «Data Protection in the Case Law of Strasbourg and Luxemburg: Constitutionalisation in Action», in: Serge Gutwirth, Yves Poullet, Paul de Hert, Cécile de Terwangne e Sjaak Nouwt (eds.), Reinventing Data Protection? Brussel / Namur / Utrecht: Springer: 3 ss.

Jahn, J., 2014: «Ruling (In)directly through Individual Measures? Effect and Legitimacy of the ECtHR’s New Remedial Power», ZaöRV 74 (1): 1-39.

Kamisar, Y., 2003: «In Defense of the Search and Seizure Exclusionary Rule», Harv. J. L. & Pub. Pol’y 26 (5): 119-140.

Kerr, O. S., 2005: «Searches and Seizures in a Digital World», Harvard Law Review 119 (2): 531-569.

Kostoris, R. E., 2014: «Diritto europeo e giustizia penale», in: Roberto E. Kostoris (ed.), Manuale di Procedura Penale Europea, Milano: Giuffrè: 1-62.

Lafave, W. R., 2004: Search and Seizure – A Treatise on the Fourth Amendment, vol. 1 (Sections 1.1 through 2.7: The Exclusionary Rule and Other Remedies & Protected Areas and Interests), 4.ª ed., New York: Thomson Reuters (1.ª ed., 1978).

Lafave, W. R., 2011: Search and Seizure – A Treatise on the Fourth Amendment, vol. 1 (Sections 1.1 through 2.7), 4.ª ed., New York: Thomson Reuters, Pocket Part (1.ª ed., 1978).

Mantei, C. J., 2011: «Pornography and Privacy in Plain View: Applying the Plain View Doctrine to Computer Searches», Arizona Law Review 53 (3): 984-1012.

Moshirnia, A. V., 2010: «Separating Hard Fact from Hard Drive: A Solution for Plain View Doctrine in the Digital Domain», Harvard Journal of Law & Technology 23 (2): 609-634.

Silva Ramalho, D., 2017: Métodos Ocultos de Investigação Criminal em Ambiente Digital, Coimbra: Almedina.

De Sousa Mendes, P., 2020: «O princípio do processo equitativo na jurisprudência do TEDH», in: Anabela Antunes et al. (eds.), Estudos de Homenagem ao Professor Doutor Germano Marques da Silva, vol. II, Lisboa: Universidade Católica Editora: 2325-2339.

Ward, K. B., 2011: «The Plain (or Not So Plain) View Doctrine: Applying the Plain View Doctrine to Digital Seizures», University of Cincinnaty Law Review 79, pp. 1163-1187.

Wittler Contardo, R., 2020: «Apreensão de correio eletrónico em Portugal: Presente e futuro de uma questão de “manifesta simplicidade”», in: Paulo de Sousa Mendes e Rui Soares Pereira (eds.), Novos Desafios da Prova Penal, Coimbra: Almedina, pp. 277-313.

JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS HUMANOS

Leander v Sweden (queixa n.º 9248/81), de 26 de março de 1987.

Amann v Switzerland (queixa n.º 27798/95), de 16 de fevereiro de 2000.

Rotaru v Romania (queixa n.º 28341/95), de 4 de maio de 2000.

Société Colas Est and other v France (queixa n.º 37971/97), de 16 de abril de 2002.

Copland v United Kingdom (queixa n.º 62617/00), de 3 de abril de 2007.

Wieser and Bicos Beteiligungen GmbH v Austria (queixa n.º 74336/01), de 16 de janeiro de 2007.

Robathin v Austria (queixa n.º 30457/06), de 3 de julho de 2012.

Bernh Larsen Holding As v Norway (queixa n.º 24117/08), de 14 de março de 2013.

Sérvulo & Associados – Sociedade de Advogados, Rl v Portugal (queixa n.º 27013/10), de 3 de setembro de 2015.

Trabajo Rueda v Spain (queixa n.º 32600/12), de 30 de maio de 2017.

Ivashchenko v Russia (queixa n.º 61064/10), de 13 de maio de 2018.

DIRETRIZES E JURISPRUDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Federal Rules of Criminal Procedure (1946, 2019).

Federal Guidelines for Searching and Seizing Computers (1994) e Supplements (1997, 1999).

Searching and Seizing Computers and Obtaining Electronic Evidence in Criminal Investigations (2001).

Weeks v United States, 232 U.S. 383, 34 S.Ct. 341, 58 L.Ed. 652 (1914).

Mapp v Ohio, 367 U.S. 643 (1961).

Coolidge v New Hampshire, 403 U.S. 443 (1971).

Bies v State, 76 Wis.2d 457, 464, 251 N.W.2d 461 (1977).

State v Washington, 134 Wis.2d 108, 121, 396 N.W.2d 156 (1986).

Horton v California, 496 U.S. 128 (1990).

State v Guy, 172 Wis. 2d 86, 492 N.W.2d 311 (1992).

United States v Carey, 172 F.3d 1268 (10th Cir. 1999).

State v Schroeder, 613N.W.2d911 (Wis. App. 2000).

Biografía del autor/a

Paulo Manuel Mello de Sousa Mendes, Universidade de Lisboa

Professor Associado com Agregação

DOI

https://doi.org/10.33115/udg_bib/qf.i2.22487

Publicado

2021-01-27

Cómo citar

Mello de Sousa Mendes, P. M. (2021). A privacidade digital posta à prova no processo penal. Quaestio Facti. Revista Internacional Sobre Razonamiento Probatorio, (2), 225–250. https://doi.org/10.33115/udg_bib/qf.i2.22487